A Bolsa zerou. Dias atrás, esse comentário foi repetido exaustivamente pela comunidade de investidores no Brasil, com direito a versões dramáticas sobre o episódio. Trocando em miúdos, tal expressão significa que o Ibovespa, na terça-feira 13, retomou à marca dos 119 mil pontos, um patamar igual ao registrado na virada de 2020 para 2021. Quem comprou um ativo espelhado no indicador da B3 não perdeu nem ganhou rentabilidade, de janeiro até essa data.

Colocada desta maneira, a explicação sobre o que é um ambiente de negociação “zerado” está longe de ser um desastre para a renda variável. Quem vive o mercado de capitais há algum tempo, sabe o quanto isso é comum. Ainda assim, este zero a zero ocupou os quatro cantos da internet, com contornos de desespero nas falas de diversos participantes do mundo de investimentos. 

Este furor merece uma reflexão: por que as pessoas físicas vêm se assustando tão facilmente a cada marco inexpressivo na trajetória do Ibovespa? Historicamente, os recursos aportados em ações renderam mais do que qualquer outra aplicação no País, mas a aversão ao risco não para de ganhar seguidores no pregão. Talvez o fato de enfrentarmos uma crise sanitária sem precedentes tenha deixado parte do mercado temeroso além do necessário.

O fato é que muitos não se dão conta do pânico exagerado. Houve quem decidiu vender todas suas ações preocupado com o atual cenário político, quando o Legislativo e Executivo disputam pela atenção do eleitor usando a CPI da Covid. Usar essa briga para justificar o abandono do navio não cola. Raramente as relações entre o Congresso e a Presidência da República alcançam um voo de cruzeiro na trajetória de uma democracia. 

Na tentativa de melhor compreender as razões para tamanha fobia à volatilidade da Bolsa, decidimos fazer uma enquete com colegas que acompanham diretamente as negociações de investidores recém-chegados ao mercado. Muitos viram pessoas físicas se desfazendo das suas posições, simplesmente por não fazer ideia do preço justo do portfólio mantido até então em carteira. 

Ora, já se passaram 8 meses do ano e outros 9 meses desde o primeiro toque de recolher da pandemia – um tempo suficiente para as empresas listadas se provarem ou não capazes de gerar lucro em situações adversas da economia. Mas o estreante na Bolsa que não sabe distinguir esse mérito prefere fugir.

No time dos assustados, há também os que aportaram todo o seu capital em renda variável, ignorando aquela regrinha básica do mercado, de não colocar todos os ovos na mesma cesta. Para esses, o sobe-desce do pregão é motivo de taquicardia. 

Segundo relatos, alguns viram que a elevação da taxa de juros iria favorecer os títulos de renda fixa e decidiram pular, sem pestanejar, para o galho dos ativos que performam com a inflação.

Não é incorreto observar oportunidades, como o caso da renda fixa neste momento. O problema é repetir o mesmo autoengano, de não estudar profundamente o mercado, não terceirizar esse conhecimento a uma asset ou escritório de investimentos nem tampouco partir para a festa dos títulos do IPCA antes de toda a manada chegar.  Essas pessoas fazem exatamente o contrário.

Teve ainda um outro comportamento comum entre aqueles mais sensíveis às recentes intempéries do Ibovespa: o investidor que insiste em ouvir os conselhos do vizinho, do amigo, cunhado, astrólogo ou qualquer outro “pseudomentor” sem a autoridade necessária para falar de investimentos. 

Mais uma vez, a amnésia toma conta de muitas pessoas físicas na Bolsa brasileira, que não enxergam a incoerência de perguntar sobre renda variável às fontes corretas. Se quando se está doente, o normal é consultar um médico, por que quando surge uma dúvidas sobre a gestão do patrimônio, seria adequado recorrer ao mecânico? 

Nem o agente de investimento nem o médico possuem bola de cristal para acertar precisamente o que vai acontecer no futuro com os seus investidores ou pacientes. O mundo foi pego de surpresa por um vírus totalmente desconhecido pela medicina. Além disso, há que se tomar cuidado ao confiar em profissionais menos preparados do que outros atuando no mesmo segmento.

Porém, a conclusão aqui é enfatizar que, se a Bolsa sobre, despenca ou zera, quando os juros disparam ou caem no País, quando o dólar se mantém estável durante uma crise política ou seja lá qual for a mudança econômica em questão, é mandatório controlar os impulsos. 

A melhor decisão, muitas vezes, pode ser a de não tomar nenhuma decisão e aguardar até a poeira do pregão dissipar. Quem vem recorrendo a estudos ou aos estudiosos do mercado desde o primeiro investimento, provavelmente, pode aproveitar  agora as oportunidades deste novo horizonte, reajustando seus aportes sabiamente diversificados em fundos de ações, ETFs, FIIs etc.

Aprender a investir com bons professores é uma maneira de se blindar frente ao desespero causado pelas infindáveis crises no Brasil. Afinal, as pessoas que escolheram ativos a partir de uma análise consistente das companhias ou observando os fatores importantes de cada ativo hoje conseguem compreender que o fato de a Bolsa zerar nada tem a ver com o mercado tirar nota zero.