A Bolsa ainda continua barata e, sim, o risco político – também conhecido como risco institucional – está superestimado no Brasil. Fazemos questão de iniciar este texto desta maneira para lembrar que não houve piora nas empresas, sobretudo as listadas no principal indicador da B3, para justificar a queda do Ibovespa nas últimas semanas.
Mesmo com o feriadão, setembro teve um início com tantos sustos que alguns investidores mais pareciam assistir a um filme de terror em seus homebrokers do que operando. No entanto, assim como no cinema, tudo não passou de ficção.
Os day traders que vivem à procura do ativo perdido, comprando e vendendo como se não houvesse amanhã, suaram a camisa em meio ao que podemos chamar de “Efeito Sérgio Reis”.
Para os millennials, cabe um parênteses para explicar essa expressão, referente ao cantor sertanejo, famoso nos anos 70 e 80, mas ainda com fãs suficientes para ouvi-lo pedir que invadissem a sede do STF (Supremo Tribunal Federal). O plano do músico veio à tona, ele teve de pedir desculpas e fim da história.
A manada mal teve tempo de descansar e já foi surpreendida com o protesto dos caminhoneiros, que tentaram paralisar as estradas do País por meio de bloqueios nas rodovias federais. Essa crise causou ao mercado um “Efeito Zé Trovão”, em homenagem ao apelido de um dos líderes do movimento grevista, também de natureza cringe, que não carece detalhes.
Por fim, surge um super-herói, na figura de um ex-presidente da República, com uma carta embaixo do braço, pedindo para o atual líder do Poder Executivo assiná-la. Ele muda o tom do discurso, diz que a história de golpe é exagero, tem uma passeata verde e amarelo, acontece a passeata do time de vermelho e chega.
A semana foi tão tensa, que ofuscou os 20 anos do atentado às Torres Gêmeas no 11 de setembro nos EUA.
A segunda-feira 13 surge ensolarada no Brasil, e o Ibovespa bate alta de 2,3% ao longo do dia. O dólar cai, e começam a sair da toca os mesmos day traders que, dias antes, roíam as unhas. Mas agora voltam a falar sobre o grande potencial de valorização das commodities no Brasil pela frente.
Se um extraterrestre chegasse hoje ao Brasil, seria realmente difícil explicar por que uma boa parte do mercado conseguiu se manter tranquila neste início de setembro, em contrapartida a tantos outros investidores que quase infartaram diante das consecutivas crises políticas.
Os autores deste artigo fazemos parte do primeiro grupo: aqueles que respiram fundo antes de, com calma, trocar a tela do monitor para checar a repercussão dos mercados diante de determinada notícia.
Exageros à parte, o fato é que existem os que estudam as empresas, calculam os riscos, fazem contas, avaliam projeções, consideram fatores, levantam estatísticas, acompanham estudos acadêmicos e o que mais for preciso antes de uma decisão de investimento. Tudo isso independentemente de uma crise estar ou não acontecendo.
O resultado deste trabalho é um portfólio blindado às intempéries do mercado, causadas pelos efeitos de Reis ou Trovões. Quem faz a lição de casa direito assiste de camarote a manada que segue o conselho do amigo do cunhado, que jura que o Brasil vai quebrar, depois de assistir um vídeo no whatsapp sobre a facada levada pelo presidente no período eleitoral, em 2018.
Ora, uma crise institucional, como a ameaça de um golpe militar no País, é realmente um motivo razoável para os extraterrestres venderem suas posições na B3. Mas só os ETs. Vocês, não! Nós que conhecemos o Brasil, que vivemos o dia a dia do mercado, sabemos o quanto é necessário refletir um pouco antes de apertar qualquer botão no teclado do home broker.
Vendo o Ibovespa derreter dias atrás, a impressão que deu foi a de que alguns investidores estão cansados de tanta rentabilidade. É como se olhassem para os ganhos dos últimos anos – antes e depois que a Bolsa ultrapassou os 100 mil pontos – e pensassem: “- Ah, já está bom. Melhor realizar esse ganho agora que sofrer essa angústia da volatilidade.”
Ganhar agora, o que poderia ganhar (mais) amanhã é um comportamento, no mínimo, curioso.