Se a Bolsa de Valores fosse uma pessoa, é possível que ela esteja sofrendo de transtorno de ansiedade. Nos últimos dias, sobraram comentários de investidores em pânico diante dos planos do Banco Central no Brasil de elevar ainda mais os juros, após o reajuste de 100 bps na taxa básica Selic. O que era para sinalizar a preocupação do Copom com o aumento da inflação, virou sinal vermelho para a renda variável.
Sábios foram aqueles que, diante do susto da manada no mercado, aproveitaram para comprar ações abaixo do valor considerado justo para aquele ativo.
É fato que, quando a projeção do IPCA-15 aponta para um percentual acima do teto da meta perseguida pelo governo, este acontecimento chama a atenção no ambiente macroeconômico. Sim, isso é preocupante. Mas não justifica uma eventual fuga dos investimentos na Bolsa.
Por que não avaliar esse cenário olhando o copo meio cheio, ante o pessimismo do copo meio vazio? A independência do Bacen para a condução da política monetária nacional está, finalmente, consolidada no País. Isso é para lá de positivo.
Para quem esteve fora do noticiário, a decisão do Copom refletiu sua impressão quanto à persistência da inflação doméstica, superando as expectativas do início do ano. A mediana das projeções para 2022, que vinha recuando marginalmente, voltou a subir. E se dessa vez a alta chegou a 100 pontos-base, um novo aumento deve acontecer em 22 de setembro.
Com isso, é esperado que a SELIC chegue a 7,5% a.a. até o final de 2021, mas, olhando para 2022, a taxa deverá se manter nesse patamar ao longo de todo ano.
É preciso separar o que é real do que parece desespero nessa previsão. Na renda fixa, por exemplo, os investimentos vão se tornar mais atraentes em função da elevação dos juros.
Os títulos pré-fixados e indexados à inflação de longo prazo estão sofrendo uma valorização neste primeiro momento. Títulos de curto prazo, por outro lado, tendem a se desvalorizar. Isso também não é ruim, já que revela uma boa chance para a compra desses ativos agora. Para quem já detêm títulos pós-fixados, que acompanham a taxa de juros, a medida do Copom é favorável, uma vez que houve um aumento da taxa SELIC.
Já na polêmica renda variável, é possível que haja um impacto decorrente do aumento no custo de oportunidade de investir em ações. Afinal, ao alocar seus recursos na Bolsa de Valores, muitos investidores ficaram com a sensação de que não podem desperdiçar a oportunidade de investir em um título de renda fixa com boa rentabilidade.
Contudo, entenda que a estabilização do ciclo de aperto monetário em uma taxa nominal de 7,50% a.a. não é capaz de retirar a atratividade do mercado de ações, que permanece promissor em 2021.
Em resumo, não é hora de sir correndo para trocar toda sua carteira de ações pelo Tesouro Direto. Considere, antes, a diversificação do seu portfólio, ou ainda, estratégias de fundos de ações que preveem ganhos nos cenários de alta e baixa da Selic.
Busque ajuda com quem tem experiência no comportamento do mercado, pois as intempéries da política monetária ano Brasil são muito comuns. Ouça os consultores de investimentos e tantas outras análises especializadas a respeito dos preços dos ativos-alvo de seu patrimônio. Se estão abaixo do valor, compre. Muito acima, venda.
A racionalidade é imprescindível em momentos de estresse no mercado. Isso sim é uma regra de ouro a se cumprir.